A filosofia de Charles Péguy: ás origens do pensamento pós-moderno

1. Introdução

É sempre uma operação cultural difícil procurar as origens de um jeito de pensar, de uma corrente filosófica. O perigo é forçar, por assim dizer, as semelhanças, as afinidades de um pensamento para que possa demonstrar a intuição do pesquisador. A nossa intenção não é esta. Os objetivos do presente trabalho são, em primeiro lugar, oferecer a possibilidade de conhecer o pensamento filosófico de um autor como Charles Péguy,1 desconhecido no Brasil e, em segundo lugar, abrir um espaço de reflexão sobre a modernidade e as suas conseqüências na atualidade. A obra poética e filosófica de Péguy fornece sem dúvida o material para este debate cultural. De fato, desde jovem, aquele que será apelidado como o filósofo de Orléans, por causa do nascimento nesta cidade, procurou percorrer um caminho diferente daquele que era traçado pela cultura moderna do seu tempo, imbuída do método histórico-científico que, ao seu ver, de científico tinha bem pouco. É esta atitude que o levará a uma análise profunda das causas do fracasso do pensamento moderno, sobretudo a capacidade de entender e escutar a realidade que se manifesta no tempo presente. Este será o problema central que acompanhará toda a trajetória filosófica do nosso autor; problema que, ao seu ver, o conduzirá ao coração dos entraves do pensamento moderno para mostrar os seus limites e, ao mesmo tempo, um novo caminho.

Um grande filósofo novo, um grande metafísico novo, não de jeito nenhum um homem que chega a demonstrar que cada um dos seu ilustre predecessores, separadamente e todos juntos, e em modo especial o ultimo na ordem do tempo, era o ultimo dos embeciis. É um homem que descobriu, que inventou algo de novo, alguma realidade, nova, da eterna realidade, é um homem que entra por sua vez e por meio da sua voz no eterno concerto. Uma voz que falta, nenhuma outra realidade pode substituí-la, e ela não suporta de ser enganada.2

Na filosofia de Péguy o problema não é aquilo de impor o próprio sistema, mas de aceitar ser uma voz, entre as outras, no coro daqueles que cantam a realidade. Péguy sempre teve esta idéia, seja de si mesmo que do seu pensamento. Folheando as páginas da sua obra, depara-se imediatamente com uma filosofia diferente, anômala. Num período cultural — o começo do Novecento europeu — que via a afirmação, sobretudo nos ambientes acadêmicos, do método histórico-crítico, baseado sobre rigorosos procedimentos dedutivos, não podia que suscitar menosprezo uma obra que ia em toda outra direção. Nas paginas de Péguy não se encontra nem uma nota, nem um parágrafo, nem um capítulo: a sua obra é uma linha continua do começo ao fim. O seu método consiste em acompanhar nos desdobramentos da realidade presente, a realidade intuída no momento, com um estilo feito de repetições, parênteses, retomadas contínuas do tema.

Aquilo que apaixonou maiormente Péguy foram os problemas ligados à natureza e ao método da filosofia inserida na cotidianidade da sua função e mergulhada no contexto dos outros saberes e dos sempre renascentes “poderes”, da política, do dinheiro e da opinião comum. A filosofia de Péguy é, antes de tudo, uma atitude interior que, confrontando-se com os eternos problemas da vida, da morte e do ser com os outros, reencontra um relacionamento diferente com o sentido comum filosófico que se expressa e se evidencia, além das pretensões de uma filosofia professional e sistemática, nos ambientes da vida cotidiana.

2. Péguy e Bérgson

Não é possível reconstruir o profundo relacionamento entre Péguy e Bérgson sem fazer referência a alguns elementos do original contexto cultural europeu dos anos que se passaram entre a ultima década do ‘Oitocento e a primeira do ‘Novecento. Tomando como referência a brilhante pesquisa de R. Arbour podemos afirmar que:

Os contatos pessoais que podemos identificar entre Bérgson e muitos escritores, e os debates que, também nos ambientes literários, se desencadearam sobre o bergsonismo antes do 1914, oferecem o espetáculo insólito de um pensamento que logo é formulado, se encontra empenhado na corrente da literatura vivente.3

Neste clima cultural Péguy possui uma matéria nova demais e meios expressivos bem precisos para sentir a necessidade de aderir a uma ou a outra escola em busca de novas fórmulas. De fato, no âmbito do clima poético do início do século passado, “a sua obra constitui uma espécie de afluente das fontes independentes”.4

Do outro lado, a esperança de libertação que animava o jovem Péguy, a sua espontânea reação de camponês da vale da Loira, a defesa ciumenta da própria liberdade interior faziam-no sentir constrangido numa atmosfera racionalista e determinista da qual Bérgson contribuiu para libertá-lo, conduzindo-o a “construir um pensamento filosófico moldado sobre aquele de Bérgson, uma psicologia religiosa que intuiu, muitos anos antes, a famosa distinção entre religião fechada e religião aberta”5 e uma amizade como alimento, sustento, ponto profundo de referência.6

Bérgson permanecerá o mestre: aquele mestre que tinha realizado na ordem do pensamento a mesma revolução que Péguy queria realizar na ordem social e política. O mesmo Bérgson reconheceu que “Péguy conheceu o meu pensamento essencial, tal e qual eu ainda não o expressei, tal e qual eu gostaria de exprimi-lo”.7

O relacionamento de “discipulado” entre Péguy e Bérgson nasceu no 1897, assim como é documentado por Jacques Viard no prefacio a tradução italiana das duas Notas de Péguy publicadas postumamente8:

Toda sexta feira, no 1903, assiste ao seu curso no Collége de France. Sete anos antes, quando o tinha como professor a École Normale Superieure, era feliz de ter aquela impressão pessoal que nada pode substituir: escutar diretamente a “voz” incansável e sutil que propunha com audácia nova e profunda, inúmeras idéias novas.9

De qualquer forma, porém, Péguy não se limitou a retomar no seu estilo as teses do mestre:

ele imprimiu ás idéias de Bérgson um movimento de descida mergulhando nas situações concretas, buscando prolongamentos e aplicações inesperadas, não para falsificar o pensamento de Bérgson, mas sobretudo pela sua capacidade de captar as imagens mediadoras e complementares.10

Apesar disso, Péguy permaneceu sempre um discípulo original, seja no encontro com o pensamento de Bérgson, que na construção de um particular bergsonismo literário. Do outro lado, o mesmo Péguy, num ensaio sem título que apareceu a três de fevereiro do 1907, no décimo primeiro Cahier da serie oitava, explicava o sentido dinâmico e criativo do relacionamento que deve existir entre discípulo e mestre:

Um aluno não significa nada. Um maior dos aluno, se ficar mesmo aluno, se repete somente, se não faz que repetir, não sabe dizer a mesma ressonância, porque então não é mais a mesma ressonância, nem um eco, é um miserável recalco, o maior dos alunos, se é somente um aluno, não conta nada, não significa absolutamente mais nada, e nada para sempre.11

Segundo Péguy, um aluno começa a contar e a valer alguma coisa quando ele mesmo introduz algo de novo, uma nova ressonância, como diria ele. Só assim o aluno pára de ser um simples aluno repetitivo para tornar-se um caminho novo. É por isso que é impossível entender as paginas da densa e profunda prosa peguyana sem continuamente recorrer à filosofia bergsoniana, que está como constante pano de fundo. Na filosofia de Bérgson, Péguy encontra aquelas intuições que se tornarão as chaves hermenêuticas de toda a sua sucessiva reflexão, seja no plano político ou religioso. Nessa altura, achamos importante oferecer alguns tópicos básicos da filosofia bergsoniana e, para isso, nos parece exaustivo o bergsonismo apresentado por G. Deluze.12

Segundo este autor, a durada, a memória, o élan vital marcam as grandes etapas daquela que em futuro será chamada a filosofia bergsoniana e a intuição será percebida como o grande marco do método bergsoniano. Se a intuição é um método, isso quer dizer que para Bérgson não é possível identificá-la com um sentimento, ou uma mera inspiração, uma simpatia, mas um dos métodos mais elaborados pela filosofia, cujas regras rigorosas constituem aquilo que Bérgson chama de “Precisão filosófica”.13 Segundo Deleuze numa exposição do pensamento de Bérgson a intuição como método filosófico, rigoroso e preciso, deve ser colocada em primeiro lugar. Neste sentido, o bergsonismo, como estilo de pensamento e como maneira de fazer filosofia, se revela, sobretudo, uma questão de método, onde não se trata tanto de resolver os problemas quanto de colocá-los, evitando sempre de ver diferenças de grau onde existem somente diferenças de natureza, para reencontrar as verdadeiras “articulações do real” na consciência, que é mesmo agindo e criando, mais que contemplando, que o homem pode ter acesso a totalidade criadora aberta. Também no interior da mesma filosofia se admite ainda uma demasiada contemplação: como se a inteligência fosse já penetrada da emoção e então da intuição, mas de forma insuficiente para criar conforme a esta emoção. Nessa altura, para Deleuze — parafraseando o pensamento de Bérgson — é possível compreender que as grandes almas não são aquelas dos filósofos, mas dos artistas e dos místicos. É o místico que repensa toda criação inventando uma expressão tanto mais adequada quanto mais dinâmica. A alma mística brinca ativamente com todo o universo reproduzindo a abertura de um todo no qual não tem nada pra ver nem pra contemplar. O filósofo, já animado pela emoção, capta as linhas que se distribuem nos mistos dados das experiências, prolongando o traço fino além da curva e aponta de longe o ponto virtual em tudo que encontra.14

O relacionamento fundamental entre Péguy e Bérgson não é possível reconduzi-lo somente numa instância metodológica, que é aquela do método intuitivo. De fato, é em diferentes níveis que o discípulo fez ressoar “a voz” do mestre. Em ambos os autores encontramos o mesmo respeito pelo real em toda a sua imprevisível variedade; a mesma recusa dos falsos problemas; a mesma convicção que filosofar é mostrar mais do que demonstrar; a mesma desconfiança para com o jogo dos conceitos; a mesma luta no confronto das assim chamadas “idéias já feitas e constituídas”; a mesma insistência sobre o ser do presente com dom concreto; a mesma exaltação da liberdade contra qualquer forma de costume acomodado.

Sem dúvida nenhuma, esta lista de sintonias filosóficas entre os dois autores não tem a pretensão de ser exaustiva: aponta simplesmente aquilo que podemos chamar de simpatia filosófica, no respeito das diferenças criativas. Falando disso, A. Devaux, profundo conhecedor do pensamento de Péguy, sustenta que a originalidade do mesmo no confronto de Bérgson consiste no descobrir aplicações inéditas do método do seu mestre.15Neste sentido podemos perceber que a oposição bergsoniana entre tempo e durada, subentende as famosas duplas introduzidas por Péguy: período/época; moderno/contemporâneo.16 Além disso, é importante sublinhar que a oposição bergsoniana entre qualidade e quantidade é presente em Péguy na contraposição rico/pobre.17

Nesta perspectiva dá pra perceber o quanto a obra de Péguy soube valorizar o potencial da filosofia de Bérgson, uma filosofia que a seu ver não podia ficar somente deitada no plano teórico, mas precisava ter um pouco de ousadia para transferi-la no plano pratico da realidade.18

A nosso ver, é a este nível que é possível colher o ponto nodal da diferença de ressonância entre os dois autores. De fato, enquanto Péguy deseja agir, transformar o mundo e converter as consciências no pessoal entendimento que só o homem de ação pode ser, ao mesmo tempo, um homem de conhecimento; Bérgson, do seu lado, é essencialmente um especulativo, um filosofo “puro” pelo qual “os princípios que servem para explicar as coisas não tem nenhum relacionamento com as regras que devemos impor a nossa conduta”.19

Assim a um certo ponto, pareceu que Péguy fosse se afastando de Bérgson; na realidade — é esta a opinião de Devaux — nunca Péguy deixou de colocar a própria ação na luz da inspiração bergsoniana reveladora da distância que existe entre o sonhar e o agir. “Péguy desejava que o bergsonismo tivesse a ousadia de explicar em fatos todas as suas potencialidades”.20

3. Experiência, razão e realidade

O tema da realidade acompanha as páginas da prosa filosófica de Péguy. Encontramo-la seja nos escritos de cunho filosófico, seja naqueles de cunho religioso e político. A dificuldade maior, para analisar este tema, está no fato de que o mesmo Péguy nunca o definiu de modo claro, mas empregou sobretudo as metáforas. Péguy parece sugerir que, pra falar da realidade, precisa ser delicado, deixar de lado as próprias pretensões intelectuais, pois a realidade é difícil de ser conhecida: não se dá com muita facilidade ás pessoas superficiais, às pessoas que se aproximam dela com um tipo de pensamento acomodado, presunçoso.

Nós recebemos do mesmo trabalho e da realidade uns avisos; a idéia que recebemos da ação da vida e da realidade é a idéia que as nossas forças de conhecimento não são nada se comparadas as nossas fontes de ignorância; que os nossos conhecimentos não são nada se comparadas com á realidade conhecível e, talvez, tanto mais no confronto da realidade não conhecível; que nós somos empenhados ou mergulhados numa ação imensa da qual não percebemos o ponto final; que o mundo tem recursos mais de que nós; que não precisamos ser espertos; que precisamos somente trabalhar com modéstia; que precisamos observar com atenção; que precisamos agir bem; e não acreditar de poder surpreender ou de poder arrestar o grande evento.21

Sendo que a realidade se apresenta com as características da forma que não pode ser definida com uma série de proposições lógicas, Péguy entrega a própria maneira de entendê-la não apenas como um estilo descritivo e não sistemático, mas também a termos como Mãe, Criação Temporal, Natureza, Realidade, Real, Vida. É preciso logo esclarecer que para Péguy estes termos não tem um valor metafísico, mas sim são todos ligados a uma atividade dinâmica. É para melhor precisar isso que Simone Fraisse acrescenta:

A soberana Realidade não é um mundo bem ordenado, dócil as leis da Natureza e que se dispõe de si mesmo abaixo das hipóteses dos físicos, mas uma criação de inquietude desobediente… Esta Mãe-Natureza, lembrança de Lucrecio, mas mais agressiva daquela do poeta latino, se reordena um pouco nos “Os Mistérios”, no olhar do Deus dos Cristãos.22

A constante sublinhadora, na obra de Péguy, de idéias e de imagens como aquela da “fertilidade” e da “fecundidade”, marcam o clima no qual as seguranças deixam o lugar às inquietações. A realidade, contrariando a descrição dos intelectuais a serviço do poder — que para Péguy é a Sorbonne de Paris — foge, por sua essência, a qualquer tentativa de classificação. Péguy percebe a gravidade do problema, pois a fixação em esquemas rígidos daquilo que por natureza é móvel, subverte todas as sucessivas construções intelectuais. É por causa de uma idéia generalizada captada por Péguy no mundo moderno, que o obriga a empurrar em profundeza a análise, para render bem visível a subversão realizada.

Era mesmo esta criação de inquietude e de incognoscível, esta criação de borra e de fermentação, esta doida esta senhora criação, esta criação de fermentos e de lama, misturada mal, pouco regular e pouco obediente, esta serva-senhora, tímida e inacessível, mais senhora que serva, mais incognoscível, em um certo sentido, do mesmo Deus, era esta velha criação do grande Deus, suja de seiva e de vinho, toda cheia de leite e de sangue, que se tratava de trocar, com a senhorita criação criada pelos sociólogos.23

Para entender em profundeza esta tomada de consciência tipicamente peguyana, ou seja de uma realidade que se apresenta sempre com as características da mobilidade e da fertilidade, é preciso seguir Péguy nas reflexões que ele mesmo propõe sobre a realidade na dimensão do presente e como manifestação de pluralidade, que é o ambiente natural onde a mesma realidade se manifeste e desenvolve.

De fato, é no tempo presente que Péguy individua o centro fundamental a partir do qual é possível entender a realidade. Depende de como escutamos, de como percebemos o presente ou — é aqui o caso do mundo moderno — de como é modificado. “Tudo deriva disso, deste ponto do presente. As economias, as morais, as metafísicas são sustentadas da maneira em que tratam este ponto do presente. Você me diga como considera o presente e eu direi que filósofo você é”.24

Sem dúvida entramos no coração da filosofia peguyana. Toda a obra de Péguy parte e se desenvolve a parti deste fulcro, da consideração intuitiva do presente. Em Péguy não existe contraposição entre realidade e presente. Em primeiro lugar o presente é um ponto, o ponto de passada do tempo. Por isso é um ponto importante porque tudo passa por ele. “O presente é o primeiro ponto não ainda empenhado, ainda não parado, o ponto ainda a caminho de aquisição… É o ponto que ainda não tem os ombros agarrados pelas mumificações do passado”.25

O presente é, então, nesta perspectiva, o ponto de manifestação da verdade. Colher o presente significa agarrar o novo, aquilo que não era. Para o homem que vive no tempo não existem espaços ilimitados a sua disposição, mas simplesmente um ponto que, por própria natureza, não pode ser fixado, entorpecido, solidificado. O presente é móvel: é esta a tomada de consciência que põe ao homem a necessidade de não fugir deste ponto precioso, porque é um ponto vital, aliás, o ponto pra onde passa toda a vida. Não podemos perder tempo: “Ser em antecipo, ser atrasados, que erros. Ser em horário é a única certeza”.26

A mobilidade, considerada característica peculiar do tempo presente, pode ser descrita somente com termos plásticos: elástico, libero, vivo, gratuito, fecundo. No presente se manifesta a novidade do real, uma novidade que é doada gratuitamente27e que se impõe ao homem como uma surpresa.

Visto de um outro ponto de vista, com uma abordagem diferente, o real começa distribuir com mãos cheias os seus tesouros. E com tudo isso o real é sempre o mesmo de antes. Mas não é mais olhado com o mesmo olhar, não é mais conhecido na mesma maneira.28

É no presente que o homem vive. Somente quando o presente é captado por aquilo que ele é, na sua mobilidade, gratuidade, fecundidade, a existência humana pode ser vivida em plenitude. Só na mobilidade do presente é possível ser autenticamente livre. Péguy colhe o drama da condição humana na vontade que a pessoa manifesta de aceitar ou recusar o desafio inquietante do tempo presente. É por isso que Péguy manifesta, em várias circunstâncias, a própria gratidão para o seu mestre Bérgson, que através do seu método intuitivo ajudou a especulação filosófica a individuar o verdadeiro centro do problema, ou seja, a maneira de entender o valor do tempo presente e a capacidade de aceitar o desafio trazido por ele.29

Continuando a analise na busca de desvendar o sentido do tempo presente, Péguy acrescenta um elemento que se revelará fundamental no complexo da sua pesquisa. A realidade é plural e multíplice: é isso que se percebe quando se vive a existência no ponto significativo do tempo presente, único verdadeiro lugar onde a realidade se manifesta em toda a sua plenitude. Se a realidade é multíplice isso quer dizer que todas as tentativas de fixá-la, endurecê-la, são destinadas ao fracasso total. É por isso que Péguy ao longo da sua obra, polemiza bastante com todas as formas do discurso filosófico reduzidas a sistema. Cada metafísica que se torne sistema ou monismo, segundo Péguy é capaz somente de produzir um pensamento estragado e redutivo.

A realidade é o reinado das multiplicidades e das diferenças. “O real nos aparece e ao mesmo tempo se apresenta não apenas com as dualidades, mas também com pluralidades… A realidade se apresenta dividida em muitas partes”.30

Péguy se coloca claramente contra toda aquela tradição de pensamento moderno, que considera significativa a elaboração sistemática da realidade. O nosso filósofo afirma a necessidade de colher o real por como ele se manifesta, na mobilidade do presente, na sua pluralidade.31É claramente uma contrafação do mundo moderno vender a realidade como uma entidade a uma dimensão. Segundo Péguy “uma livre e crescente harmonia deve puder fazer sem uma superior unidade”.32

Toda a questão parece surgir por um preconceito. De fato, aqueles que são movidos pela irrefreável necessidade de unificar o mundo, sustentam a impossibilidade de uma realidade multíplice, pois segundo eles incentivaria só a tirania. Péguy não concorda de jeito nenhum com esta teoria.

Quem falou que a dualidade ou a multiplicidade comporta necessariamente a tirania? Isso é verdade só se um dos dois é tirânico e o segundo servil, mas isso não é verdade se o primeiro tem a modéstia e o segundo a firmeza do homem livre.33

O problema verdadeiro é que o pensamento sistemático moderno é manipulado pela política. São princípios e interesses políticos que, segundo Péguy, estão por trás dos sistemas filosóficos, que expressam a necessidade de manipular a realidade, camuflando a verdade para poder dominá-la conforme o próprio interesse. Por isso, segundo o filósofo de Orléans, não é possível defender erros de perspectiva somente por cálculos políticos. Em jogo está a existência e o mesmo sentido da liberdade pessoal, que necessita de uma realidade plural e não monolítica ou camuflada por motivos imorais.34 Se quisermos viver numa livre e crescente harmonia precisamos deixar a multiplicidade das energias e dos seres todo o seu valor, toda a livre variedade delas. Escutar e colher a pluralidade da realidade significa aprender a pensar em maneira conseqüente ao dom acolhido, quer dizer em forma livre.35

É no começo das duas Notas36 que encontramos a afirmação central do pensamento de Péguy sobre a centralidade da experiência presente como o lugar preferencial onde a realidade é manifestada a nós. É preciso um dúplice encontro: de um lado é a realidade que vai ao encontro do intelecto e, ao mesmo tempo, é o intelecto que vai ao encontro da realidade para que se realize aquela ligação entre homem e mundo através da qual se produz o conhecimento. Em outras palavras, é preciso que a experiência venha de encontro da razão pra não isolar-se reciprocamente.37

É preciso resgatar o sentido da razão operante, da razão crítica, livre que não se deixa amarrar às formas sistemáticas do pensamento moderno. A razão, afinal de contas, deve ser colocada em condição de ser ela mesma, propriamente “racional e razoável38 pra ter a possibilidade de se colocar em liberdade perante o mundo. Esta razão, porém, toma consciência que ela não é tudo:

Sabemos, por meio da razão que a força não é um fato desprezível, que muitas paixões e muitos sentimentos são dignos de todo o respeito e veneráveis, poderosos e profundos. Sabemos que a razão não esgota a vida e também o melhor da vida; sabemos que os instintos e as dimensões inconscientes pertencem a uma realidade sem duvida mais profundamente existente.39

Neste sentido, amadurece em Péguy uma decisão fundamental, ou seja, aquela de acolher na elaboração da sua reflexão filosófica, não apenas as considerações sobre o tempo presente, da comunidade presente, mas também as comunidades passadas. Trata-se de permanecer constantemente na escuta do tempo presente para saber valorizar tudo aquilo que a realidade oferece também no amadurecimento do que vem de muito longe, do passado. A escuta do tempo presente, neste sentido, não é fruto de um isolamento, um desejo de romper com o passado, de excluir também qualquer tipo de projeção futura. Pelo contrário, a atenção autentica ao tempo presente leva Péguy a permanecer em constante escuta de tudo que passa no ponto do tempo presente, um ponto carregado também de tudo aquilo que o passado traz consigo. Por isso, a razão não pode ser deixada sozinha, mas continuamente auxiliada por todas aquelas forças acima acenadas, que fazem parte do patrimônio da humanidade. Neste sentido, aos olhos de Péguy, o problema e a tarefa mais urgente torna-se aquela de reencontrar um sentido mais concreto da razão no relacionamento articulado com os outros meios do saber e da vida, com as outras fontes do conhecimento, e de reencontrar um sentido do conhecimento que não faça coincidir a razão com o puro racionalismo. Nesta mesma linha, é importante libertar a razão de qualquer força externa que tente manipulá-la. De fato, uma razão ao serviço do poder, de uma autoridade não pode ter condições de colher a realidade.

A razão — escreve Péguy — não depende de alguma força, não depende mais dos exércitos revolucionários ou regulares. Não depende mais das massas populares. É trair a razão e o povo querer estabelecer sobre o povo um governo, um domínio, uma autoridade da razão.40

Somente uma razão livre e aberta é em condições de enfrentar e escutar a mobilidade do presente.

4. A crítica ao mundo moderno

Toda a obra em prosa de Péguy é o desenvolvimento de uma intuição que pode ser resumida numa palavra: “moderno”. Página depois de página encontram-se estas expressões de “mundo moderno”, de “partilha intelectual e moderna”, ou simplesmente de “modernos”. Poderia se retomar a análise que o mesmo Péguy fez da palavra “cruel” e em Racine, onde ele via:

uma verdadeira palavra condutora, motivo condutor, ou seja um aparelho, uma aplicação exterior, mas uma palavra, um movimento realmente central, realmente, profundamente interior, que retorna todas as vezes que é realmente necessário… quase uma palavra técnica, certamente uma palavra ritual a mesma palavra da revelação do coração.41

De qualquer forma Péguy recusa ser o executor deste termo e remete a responsabilidade aos próprios adversários:

quando dizemos “modernos” é o mesmo nome do qual se vangloriam, é o nome do orgulho deles e da invenção deles… a era moderna, a idade moderna, a escola moderna, dizem também: a religião moderna… quando dizemos moderno, falamos assim um termo muito determinado com o inicio (uma época) e um período.42

Deste período parece fácil adivinhar o começo, mais ou menos o 1880. São famosas as páginas com a expressão que uma criança criada numa cidade como Orléans entre o 1873 e o 1880 tocou literalmente

a velha França, o velho povo… o desastre seguiu todo de vez, em pouco tempo… O mundo mudou mais nos últimos trintas anos que desde o nascimento de Jesus Cristo. Teve a idade antiga (e bíblica). Ouve a idade cristã. Ouve a idade moderna.43

A crítica radical ao mundo moderno remonta aos anos da primeira juventude, ou seja, os anos da Ecole Normale. Para Péguy, moderno antes de tudo é um jeito de ser no tempo que sacrifica tudo aquilo que de mais vital, autêntico, puro, fecundo se encontra nele. “Moderno”, então, neste sentido é a vitória da fatalidade, da hipocrisia, da máscara: o “mundo moderno” é um mundo que tenta mascarar a realidade. Segundo Péguy, o moderno desvirtuou o tempo aniquilando o presente. O presente pode ser visto por dois lados: ou como último ponto que vem do passado, ou como algo de novo que vem ao encontro do homem do futuro. No primeiro caso, o presente pode ser domesticado, controlado sem problemas; pode ser considerado um fruto terminal daquilo que estava já decidido previamente.44 Foi esta a operação elaborada pelo pensamento moderno: amarrar o presente segurando-o, não deixando que ele expressasse toda a sua força de novidade. Controlando o presente, ou melhor, pensando em dominar o presente com este olhar perspectivo, o mundo moderno pensou ter conseguido dominar a realidade. Foi este o grande erro que provocou tantos desastres.

Toda a operação tem como ponto de origem, toda a operação consistiu na origem no endurecer, no entorpecer este ponto do presente. Até que ele era elástico, livre, vivo, gratuito, bonito, fecundo, não podia entrar na conta… Uma vez entorpecido, endurecido, uma vez que se tornou um ponto rígido do passado… podia começar a entrar na conta.45

Para poder viver no presente, o mundo moderno teve que bloqueá-lo. Só desta maneira foi possível manusear o presente como se fosse um objeto. Uma vez endurecido, o presente é objetivado: pode ser observado, calculado, enumerado como qualquer outro ente. Sobretudo, pode ser considerado como se não fosse presente. A brincadeira moderna é fácil demais: trata-se somente de bloquear o presente móvel, isto é, de desnaturá-lo.

Este é o mecanismo, tal é o pressuposto desta antecipação. Sendo que ficamos tranqüilos no passado, enquanto sendo passado ele é inalterável e definitivo, trata-se de fazer com que o presente móvel, seja ele mesmo um passado. Por isso transfere-se sobre o instante que vem logo depois, e ali se olha o presente, no qual somos, como um passado ligado.46

O problema do mundo moderno consiste em criar uma situação na qual não existe perturbação, na qual o impacto com a dinamicidade pode ser absorvido, abrandado. O passado oferece esta possibilidade, pois ele é parado, tranqüilo: por isso pode ser observado e até fichado. O homem moderno aprendeu a narcotizar o presente transformando-o em passado. Basta transferir-se mentalmente no futuro, antecipando o presente, considerando o presente como se fosse passado. As ideologias modernas têm como pano de fundo este princípio básico de filosofia da história. As metanarraçoes47 que explodiram nas últimas décadas do século passado, têm como substrato conceitual esta idéia de tempo que Péguy analisa em profundidade. Aos olhos de Péguy, o homem moderno se acostumou a pensar a realidade querendo controlá-la e, este controle foi feito tentando dominar o presente, tirando toda a força dinâmica contida nele. Nesta leitura, que é claro ensaio da interpretação tipicamente peguyana da modernidade, podemos incluir os grandes sistemas metafísicos que ditaram as linhas da política e da sociedade do mundo Ocidental nos últimos séculos. Quando a deturpação do tempo presente é em ato, então toda a história deve agüentar as tristes conseqüências.48

Se for verdade que o presente e tão importante pela realização da existência humana, porque o homem moderno fez de tudo para deturpá-lo? Para Péguy a resposta é muito simples: trata-se da necessidade de tranqüilidade ínsita na natureza humana, que instintivamente luta contra tudo aquilo que é dinâmico e novo, porque pode abalar aquilo que é estável. O presente constitui a grande ameaça da tranqüilidade existencial do ser humano, pelo menos assim como é entendido no mundo Ocidental.49 A necessidade de tranqüilidade é o princípio psicológico que sustenta a “substituição fraudulenta” do presente com o passado. Esta necessidade de tranqüilidade é o sintoma de uma preguiça, de um cansaço mental que envolve o mundo moderno.50 O problema é que esta substituição prejudica o conhecimento da realidade assim como ela é, ou seja, na sua plena manifestação no tempo presente. Se a vida se derrama no tempo presente, então o homem moderno, por causa da sua preguiça e da sua necessidade atávica de tranqüilidade não está conseguindo saborear o sentido profundo da vida. “Pra conseguir a paz no instante sucessivo, fazemos do presente um tempo morto, um tempo passado”.51

Amarrando o presente o mundo moderno amarrou a mesma vida que passa necessariamente para aquele único ponto vital. O homem moderno parou de viver porque não se encontra mais no único ponto onde passa a vida. O tempo em que o mundo moderno vive ao tempo verdadeiro, autêntico, mas sim um simples produto mental, um artefato. É isso que produziu, ao longo dos séculos, a aridez do coração de todo um povo, toda uma raça. Para Péguy o problema pior é que o homem moderno não parece entender aquilo que está acontecendo, não parece estar consciente da grande deturpação cultural que há tempos está acontecendo e prejudicando o desenvolvimento espiritual de todo um povo. O mundo moderno, vivendo num mundo artefato e irreal, se acostumou a trocar a vida com a morte e, assim, a não perceber desta perniciosa substituição.

Ninguém falava que a vida era morta, porque nós mesmo éramos passados do outro lado da morte… Se dizia, sem saber o que se dizia, que a vida era morta. Porque, continuando a chamá-la de vida, falava-se sempre como de uma morta, a se percebia sempre como uma morta.52

Diante deste quadro assustador o que é preciso fazer? Para Péguy é importante retomar a velha sabedoria da tradição camponesa, que aconselhava adiar para amanhã as preocupações de amanhã, adiar na velhice as preocupações da velhice, a não carregar o tempo presente das preocupações que não lhe pertencem.53 De qualquer forma, porém, o mundo moderno é um mundo velho, velhice que se manifesta como rotina, que devagarzinho se tornou uma segunda natureza. O mundo moderno vive no tempo da rotina: esta tornou-se a sua mesma natureza, a sua mesma realidade.54 A rotina age sobre a memória provocando uma espécie de esquecimento coletivo. Aliás, seguindo o pensamento de Péguy, pode-se dizer que neste sentido a memória é a aliada preferencial do instinto de sobrevivência que exige tranqüilidade e que, operando o aniquilamento do tempo presente, transforma tudo aquilo que é dinâmico e vivo em rotina e morte. Nisso não encontra mais espaço algum tipo de criatividade e de fecundidade: tudo é constantemente antecipado para que nada possa intervir para perturbar. “A morte de um ser é o seu se encher de rotina, o seu se encher de memória, ou seja, o seu se encher de envelhecimento, ou seja, o seu se encher de esclerose e de todo endurecimento”.55

Viver na rotina significa viver na morte. A rotina é aquilo que já se viu, já se conheceu. Quando a alma é repleta de rotina então significa que chegou a morte, porque a força contida no tempo presente foi bloqueada. De fato, se a vida não corre mais, se a realidade não consegue a transmitir as próprias energias, o ser torna-se completamente ocupado com os próprios resíduos, os imensos resíduos armazenados na memória. Todas as energias espirituais do homem são utilizadas para revestir a rotina. Não sobra mais nada: o germe da rotina penetra e corroe todo o ser. Nessa altura, a rotina torna-se uma segunda natureza também pelo ser pessoal. Quando a rotina alcança o coração de uma pessoa qualquer centro vital é bloqueado. Não é mais possível, então, falar de liberdade e de criatividade.56 No mundo moderno veio a faltar o elemento básico que permita a pessoa exercer a própria liberdade: a vida.

5. Crítica ao intelectualismo e ao método moderno

A polêmica contra o intelectualismo ou, por assim dizer, contra aqueles que buscam as cátedras “não para ensinar, mas para poder sentar”, encontra-se em todos os momentos da evolução cultural de Péguy. A sua atenção a não enganar, a promover uma razão como instrumento da verdade e não a serviço do poder, levou Péguy a polemizar duramente contra os fraudulentos métodos chamados de científicos, mas que de ciência, aos olhos do filósofo de Orléans, não tinham nada. A condenação da Igreja Católica contra os livros de Bérgson no 1914 ofereceu a ocasião para Péguy não apenas tomar a defesa do seu mestre, mas, sobretudo para esclarecer a importância do seu pensamento e, ao mesmo tempo, refletir sobre o sentido da inteligência humana ofuscada pelo romantismo que a opunha ao sentimento. Segundo Péguy, é preciso renunciar a idéia de que a paixão seja turva e escura e a razão clara, que a paixão seja confusa e a razão distinta. “Todos nós conhecemos paixões que são claras como fontes e razões que se atolam numa série de idéias adquiridas”.57

Quem está em busca da pura verdade não pode encostar-se ao partido da razão, romântico o racional que ele seja. O risco é de não colher o mesmo sentido da realidade. A primeira coisa para ser feita a nível intelectual é libertar o campo cultural de todos os preconceitos modernos que atrapalham a percepção da realidade assim como ela é. O patético, a paixão não é inferior ao racional, assim como o mundo moderno quer passar. É preciso resgatar o valor da paixão, a contribuição da paixão na busca da verdade da realidade. Para realizar isso, é necessário desmascarar os conceitos utilizados pelo raciocínio moderno, que é recheado de idéias “já feitas”. A idéia “já feita” se apresenta ao espírito sem nenhuma fatiga. A rotina prepara o terreno para que o espírito enfraquecido, possa acolher as idéias “já feitas”.58

A distinção entre um pensamento confeccionado, já feito e um pensamento sob medida, para Péguy é fundamental, pois é a este nível que é possível vislumbrar a mais profunda contribuição da filosofia bergsoniana. De fato, Bérgson afirmando que “o presente, o passado, o futuro não pertencem somente ao tempo, mas sim ao mesmo ser”, desferrou o maior ataque às filosofias sistemáticas do mundo moderno que, por causa da rigidez interna dos sistemas elaborados, demonstraram-se incapazes de colher o sentido da existência na mobilidade do presente. Volta à tona, nesta circunstancia, o discurso já lembrado entre razão e realidade, um relacionamento que nasce de um encontro recíproco, um “andar-se em contra”. A criação, nesta perspectiva, não é uma mera troca de seqüências cronológicas, quanto uma troca de ser e de natureza. Nesta “troca” de ser, a idéia confeccionada, já feita, resulta pouco adequada ao ser perenemente em movimento no tempo presente. São as idéias sob medida as únicas que têm direito de cidadania na “cidade harmoniosa”, pois são aquelas que nascem no presente e não provem de nenhum passado.

Para Péguy a filosofia de Bérgson operou uma verdadeira revolução no confronto do pensamento moderno, tudo adequado sobre sistemas de pensamentos elaborados com idéias confeccionadas, já feitas. Foi esta mesma revolução que Péguy quis levar para frente em todas as direções aonde era possível no seu tempo.

O pensamento “já feito” do partido intelectual moderno possui um próprio método ao qual Péguy dedica páginas de grande profundeza. O mundo moderno, que subverteu o sentido da realidade, da razão e, de conseqüência, da mesma existência, foi capaz de levar á frente esta obra de deturpação graças a um método bem preciso. Em primeiro lugar, encontra-se nestes intelectuais a presunção de querer exaurir a totalidade da realidade: “o mundo moderno, os métodos modernos, a ciência moderna, pensam de ter-se libertado de Deus; na realidade nunca o homem foi tão libertado por Deus”.59

Existe uma contraposição entre método intuitivo e discursivo que deve ser sarada. Sobretudo existe um preconceito que declara o método intuitivo como misterioso e agnóstico e o método dedutivo como humano, claro e científico. Na realidade, no trabalho histórico, é o método discursivo-dedutivo a ser misterioso e orgulhoso, enquanto o mais claro e científico resulta ser o intuitivo. Importante é perceber que todo método é, antes de tudo, uma tentativa, um ponto de vista e nada mais. O verdadeiro método deveria provocar perguntas e não oferecer respostas definitivas. É por isso que Péguy não aceita a atitude arrogante e presunçosa dos intelectuais modernos, que acham que podem alcançar um conhecimento integral da realidade.60 Se a realidade é plural, como Péguy em muitas maneiras tentou demonstrar, então não é possível abordar esta realidade com um método incapaz de penetrar a pluralidade da realidade. Neste contexto, não pode encontrar espaço nenhuma hierarquia de saberes, ou de disciplinas recheadas de idéias já feitas, preconceituosas, mas somente métodos que respeitem a multiplicidade da realidade. A verdadeira contribuição que um método científico pode oferecer não é uma leitura exaustiva da realidade que entende-se examinar, quanto chaves de leituras que possam ajudar a penetrar a pluralidade da realidade, assim como ela se apresenta no tempo presente. Perante um “universo enorme de eventos e mal conhecido”,61 num oceano da realidade e do pensamento no qual são delineados continentes diferentes, a mais ampla construção de uma rica pluralidade de métodos é a condição preliminar, não apenas para trabalhar de forma diferenciada, mas também para produzir e para restituir nos “armazéns eternos” os mais lindos “frutos da terra”. O resultado melhor deste processo de pesquisa deveria ser um método que formule um conjunto de regras que ajudam a perceber um problema, que aponte novas instâncias e novas limitações, favorecendo o nascimento de grandes famílias de pensadores, de mestre e alunos. Quando se fala de método, Péguy não se refere a princípios conclusivos de um sistema,62 mas ao momento inicial no qual uma denúncia abre ao itinerário de pesquisa de novos conteúdos.

Além disso, uma outra grande diferença podemos destacar entre os métodos científicos: de lado estão aqueles que têm a pretensão de fazer coincidir as estruturas do real vivente com o verdadeiro construído, violentando de conseqüência o mesmo real, e do outro lado um método que pensa só de poder buscar traços, vestígios, sintomas de uma verdade do real, que fica sempre além de qualquer esforço científico. O problema do pensamento moderno é que tem a pretensão de se substituir a mesma realidade, contra as mais modestas filosofias que se percebem como uma viagem de exploração do real.63 Para se libertar desta precariedade, a ciência moderna quis cortar o seu relacionamento com a filosofia e com a metafísica perdendo, assim, o sentido da sua profundeza. A partir deste momento nasceram, aos olhos de Péguy, uma série de metafísicas verdadeiramente perigosas, com uma pretensão de serem leigas, mas que na realidade são extremamente confessionais, pois nasceram todas no contesto das disciplinas científicas e, de uma forma especial, da física moderna. Nada, então, de presumida neutralidade, quando na verdade a inspiração é de um lado bem preciso e com intenções nada neutrais, mas bem claras. O mito da objetividade na pesquisa do método histórico crítico moderno, fica então, para Péguy, totalmente desmascarado. Aonde isso se percebe e é bem visível é na dificuldade das metafísicas científicas de distinguir a teoria da práxis. A ausência desta fundamental distinção é mascarada com uma outra imaginária distinção; aquela entre o físico e o metafísico. Segundo esta distinção, físico seria tudo aquilo que é percebível e que reservaria para o homem só fáceis triunfos, enquanto ao metafísico pertenceria o mundo que não se pode perceber e deixaria para o homem só decepções. Desmascarando esta radical subversão operada pelo mundo moderno, Péguy aponta alguma linhas para a pesquisa futura:

Nós mostraremos e deveremos demonstrar que a metafísica é a só pesquisa de conhecimento direta, e que a física, em vez, pode ser só uma tentativa de pesquisa de conhecimento indireto, administrada graça à mediação dos sentidos; mostraremos e deveremos demonstrar que todas as metafísicas não são por isso mesmo das teorias, nem que todas as físicas são ipso facto das técnicas, mas que tem teorias práticas, fatos e eventos físicos.64

A idéia moderna entrincheirada sobre o altar da cientificidade, servida pelo método declarado certo, feito de fichas sobre as quais parece possível imprimir todos os dados da realidade conhecível, apresenta segundo Péguy alguns problemas.

Em primeiro lugar, a operação de isolamento da metafísica realizada no mundo moderno para conseguir, de um lado, o controle dos dados observados e, do outro, para se distanciar de todo o conjunto de conhecimentos supersticiosos, ligados ao mundo do não físico que a metafísica parece ter cultivado, para Péguy não parece ser muito convincente. Na realidade, é mesmo a idéia moderna “que é maravilhosa, milagrosa”.65 Foi o espírito científico que se apresentou de repente na história do homem como um milagre.

Em segundo lugar, a presunção dos modernos chegou ao ponto de declarar a novidade absoluta das próprias teorias no confronto das teorias precedentes. Quem porém aprendeu a ler entre as linhas da história, percebe logo que tudo aquilo que chama-se de ciência pura “é imbuído das mais antigas mitologias físicas e metafísicas”.66

Em último lugar, aquela universal preguiça que afeta o partido intelectual moderno e molda o mesmo método histórico-crítico, conduz para impressionantes erros de perspectivas: “Nada é mais errado querer nos apresentar a sucessão das metafísicas e das filosofias — das religiões — como um processo linear, ininterrupto, contínuo”.67

É por causa desta série impressionante de erros de perspectiva, que Péguy detecta ao longo da sua obra, que não é possível acreditar na proposta dos intelectuais modernos. Não existe, portanto, uma filosofia e nem um método filosófico que possa ter a presunção de possuir a chave hermenêutica da leitura exaustiva da realidade. “As filosofias — sentencia Péguy ao fim da sua longa pesquisa — não são nada mais que linguagem da criação”.68

6. Conclusão

Acompanhar o desenvolvimento do pensamento de Péguy não é fácil. Como já apontávamos no começo deste trabalho, a obra de Péguy é uma linha contínua: nada de sistemático, seja na forma, seja na mesma pesquisa. Apesar disso, deparamo-nos com uma obra original e, ao mesmo tempo fascinante que sem dúvidas abriu o caminho para reflexão filosófica sucessiva. Sabemos que Péguy influenciou sobretudo o pensamento político progressista europeu do século passado e, em parte, a reflexão religiosa italiana e francesa da mesma época. A sua obra, porém, oferece sem nenhuma duvida motivos de reflexão para interpretar a cultura pós-moderna do nosso tempo. Na obra de Péguy encontramos, de fato, o primeiro esboço daquela crítica da modernidade que se desenvolverá na década dos anos sessenta do século passado, pra chegar até aos nossos dias. As páginas sobre o tempo presente e as dificuldades encontradas no mundo moderno para uma atenta escuta dele, do verdadeiro sentido da realidade, oferecem ainda hoje motivos para uma análise do fracasso das ideologias modernas. É no plano da filosofia da história, auxiliado pelo método intuitivo de Bérgson, que Péguy aponta o caminho a ser percorrido para desmascarar e, ao mesmo tempo, desmontar o sofisticado sistema moderno. Viver a realidade, aceitando o desafio que ela nos oferece no tempo presente: é este vibrante caminho que Péguy nos convida percorrer, deixando de lado qualquer forma de preguiça mental, que se esconde atrás da necessidade psicológica de tranqüilidade. Em jogo está a possibilidade de saborear o autêntico valor da vida. Talvez, depois de ter lido as páginas do filósofo de Orléans, vale a pena fazer um rápido exame de consciência para ver até que ponto a mentalidade moderna afetou a nossa maneira de pensar e viver, pra procurar logo uma forma para nos desintoxicarmos.


  1. Charles Péguy (Orléans 1873-Villeroy 1914, França). Foi militante socialista e se converteu ao catolicismo no 1908. Foi ideator e redactour da revista “Les Cahiers de la quinzaine ” que fundou no 1900 e continuou até a morte. A sua produção literaria comprende poesias, obras em prosa e ensaios filosoficos. Alguns dados sobre a vida e a obra de Péguy encontram-se nos seguintes sites: http://www.cœur-de-france.com/peguy.html; http://agora.qc.ca/mot.nsf/Dossiers/Charles_Peguy↩︎

  2. L. LA Puma-A.Prontera (org.), Metafisiche, filosofie, religioni e… “progresso” moderno, InsEA ed., Paris-Lecce, Pergola Monsavium, 1991, p. 111. ↩︎

  3. R. Arbour, Henri Bérgson et lês lettres françaises, Paris, José Corti, 1956, p. 13. ↩︎

  4. Ivi. p. 279. ↩︎

  5. Ivi. p. 273. ↩︎

  6. Cf. A. Prontera, La filosofia come metodo: libertá e pluralitá in Péguy, Milella, Lecce, 1988, p. 32. ↩︎

  7. Cf. ‘Europe’, 15 abril 1938, p. 488; Está em A. Prontera, La filosofia come método, cit. p. 32. ↩︎

  8. Péguy C., Note sur H. Bergson et la philosophie bergsonienne, 26 abril 1914; Note conjointe sur M. Descartes et la philosophie cartesienne, março-julho 1914 (publicadas postumas no 1935 pela editora Gallimard de Paris). Sobre o relacionamento entre Péguy E Bergson cf. Devoux A., La encontre entre Péguy et Bérgson, em AA.VV., Péguy vivant, Milella, Lecce, 1978, pp. 561-566. ↩︎

  9. Viard J., C. Péguy, Cartesio e Bérgson, Milella, Lecce, 1977 (contem a tradução das duas Notas citadas na precedente nota), p. XIX. ↩︎

  10. Arbour R., H Bérgson et lês lettres fraçaises, cit. P. 289. ↩︎

  11. Metafisiche, filosofia, religione e… “progresso” moderno, cit. P.78. ↩︎

  12. Deluze G., O bergsonismo, Ed. 34, São Paulo, 2004. ↩︎

  13. Deluze, G., O bergsonismo,cit. p. 7. ↩︎

  14. Cf. ivi, p. 106. ↩︎

  15. Cf. A. Devaux, La rencontre entre Péguy e Bergson, cit. P. 562. ↩︎

  16. Cf. C. Péguy, De la situation faite a l’histoire et á la sociologie dans les temps moderns, em Ouvres em Prose, 1898-1908, Pleiade, Paris, 1961, pp. 991-1030. De agora em diante citaremos as obras de Péguy da seguinte forma: Œuvres em prose, 1898-1908 = A Œuvers em prose 1909-1914 = B Œuvres poétiques completes = C. ↩︎

  17. Cf. De Jeane Coste, A, pp. 487-536. ↩︎

  18. Segundo Devaux “a razão profunda desta diferença é sem duvida na diferente maneira de entender o valor do corpo. Para Bérgson a tarefa do corpo é sobretudo de limitação da vida espiritual pela vida orgânica. Pelo contrario, para Péguy o corpo tem uma função muito mais positiva, porque de alguma maneira é o corpo que carrega e leva a memória e o espírito, no sentido que aquele que age não pode esquecer as condições da sua mesma ação” (Le rencontre, cit. pp. 563-564). ↩︎

  19. Carta de Bérgson ao jornal francês “Le Figaro”, em resposta a um artigo de Jules Benda, 31 de julho 1916, em A.Devaux, Le rencontre, cit. p. 564. ↩︎

  20. Ibidem. ↩︎

  21. Zangwill, A, pp. 1446-1447. ↩︎

  22. S. Fraisse, Péguy, Seuil, Paris, 1979, pp. 117-118. ↩︎

  23. C. Péguy, Lo spirito del sistema, a cura di M. Forcina, Milella, Lecce, 1988, pp.227-228. ↩︎

  24. Cartesio e Bérgson, (a cura di) M.Petrone, A. Prontera, Milella, Lecce, 1977, p227-228. ↩︎

  25. Ivi pp. 205-206. ↩︎

  26. Ivi p. 213. ↩︎

  27. É preciso sublinhar o sentido que assumem na analise filosófica de Péguy termos quais: ”dom“ ou ”decerner“ no seu sentido complexo de decidir, mas também de doar, acrescentar, utilizados amiúde como elementos próprios de um objeto: a realidade”(A. Prontera, A filosofia come método, cit. pp. 186-187). ↩︎

  28. La ragione, em C. Péguy, L’anarchia política, (a cura di) A. Prontera, Milella Lecce, 1991. ↩︎

  29. Cf. Cartesio e Bérgson, cit., pp. 241-242. ↩︎

  30. Péguy pluralista, cit. p. 23. ↩︎

  31. Na escola foi me referido amiúde que o pensamento humano advertia a necessidade de unificar o mundo. Acreditava que fosse verdade pois eu era um rapaz dócil. Eu mesmo repeti esta idéia até que fui um aluno disciplinado. Esta repetição me valeu prêmios e notas de mérito. Tratava-se, porém, a repetição de uma mentira. Quanto questionei a me mesmo percebi que não se tratava de jeito nenhuma de uma necessidade. Apesar disso faço parte do pensamento humano. Conheci varias paisagem. Nunca adverti a necessidade que o planalto se tornasse idêntico ao vale… Hoje percebo ainda menos esta necessidade”(Ivi p. 29). ↩︎

  32. Ivi p. 28. ↩︎

  33. Ivi p. 35. ↩︎

  34. Neste sentido Péguy, sempre no mesmo texto que estamos analisando, acrescenta: “Sempre mais descubro que os homens livres e os eventos livres são vários. São os escravos, a não ser vários”(Ivi p. 30). ↩︎

  35. Neste sentido é importante escutar as palavras de Péguy numa das mais famosas paginas da sua prosa: “A cidade harmoniosa tem por cidadãos todos os viventes que são almas, todos os viventes animados, porque não é harmonioso, porque não é conveniente que vive nela almas estrangeiras. Assim todos os homens de todas as famílias, todos os homens de todas as terras, das terras longínquas e a nós perto, todos os homens de todos os trabalhos, dos trabalhos manuais e dos trabalhos intelectuais, todos os homens de todos os paises, dos países pobres e dos países ricos, dos países desérticos e dos países povoados, todos os homens de todas as raças… todos os homens de todas as nações, todos os homens de todas as pátrias se tornaram cidadãos da cidade harmoniosa, porque não convem que nela vivam homens estrangeiros” (Marcel, premier dialoque de la cite harmoniouse, A, cit. p. 79-80). ↩︎

  36. Cf. Cartesio e Bérgson, cit. p. 37. ↩︎

  37. Ivi p. 22. ↩︎

  38. Ivi p. 58. ↩︎

  39. Ivi p. 64. ↩︎

  40. Ivi p. 53. ↩︎

  41. Victor Marie Comte Hugo, B, p. 728. ↩︎

  42. De la situation, A. cit, p. 673. ↩︎

  43. Il denaro, Edizioni Lavoro, Roma, 1990, p. 53-54. ↩︎

  44. Em vez de considerar o mesmo presente, em vez de considerar o presente presente, se considera o presente passado, um presente fixo, um presente imóvel, um presente parado, inscrito. Um presente histórico. Em vez de considerar aquele ponto segredo que é o presente, se considerava já uma historia do presente, uma memória do presente, ou seja se considerava o aspecto que deveria ter exaurido o presente não apenas tivesse se tornado passado” (Cartesio e Bérgson, cit. pp. 205-206). ↩︎

  45. Ivi p. 225. ↩︎

  46. Ivi p. 218. ↩︎

  47. Cf. F.Lyotard, A condição pós-moderna .É Lyotard que chama pela primeira vez os sistemas filosóficos modernos de metanarraçoes. ↩︎

  48. Se amarrais o presente então tudo fica amarrado. Se conservais livre o presente, então as outras liberdades poderão serem poupadas” (Cartesio e Bérgson, cit. p. 228. ↩︎

  49. Esta necessidade monstruosa de tranqüilidade que se manifesta na infecundidade de todo um povo, no aniquilamento de toda uma raça, é só um amplitude daquela necessidade comum de tranqüilidade moral, que nos leva sempre a pensar ao amanhã e sacrificar o hoje pelo amanhã” (Ivi p. 210). ↩︎

  50. Nesta preguiça encontramos tudo. Percebia-se que o presente é difícil de se conhecer. Então se dizia: não vale a pena cansar demais para isso. Daqui a pouco será passado. Então o se agarrará com os alicates que a historia nos forneceu pela tomada de consciência do passado. Nisso tem tudo”(Ivi pp. 239-240) ↩︎

  51. Ivi p. 217. ↩︎

  52. Ivi p. 207. ↩︎

  53. Não sacrificar o hoje e a liberdade e a fecundidade de toda uma vida á tranqüilidade da velhice. Não sacrificar todo um mundo para uma velhice do mundo. Não render velho o hoje: ele envelhece sempre e suficientemente”(Ivi p.221). ↩︎

  54. Neste sentido são cheias de poesias as paginas nas quais Péguy expressa estas idéias: “Como um lindo rio que se desviou para alimentar um canal e que nos obriga a passar por cima de uma catarata. Bastou traçar o canal e fixar a catarata uma vez por todas. Daquele momento tudo aquilo que a fonte produz é por o canal, e é por passar sobre aquela catarata. Tudo mundo sabe que não é o canal que produz e que a catarata não faz outra cosia que apanhar. Tudo mundo sabe, mas ninguém pensa mais nisso. Se tomou o costume, a rotina”(Ivi p. 235). ↩︎

  55. Ivi p. 38. ↩︎

  56. Uma alma que depara com o ”já visto“é uma alma morta, é uma alma cuja matéria, por assim dizer, cuja inteira matéria espiritual foi conquistada devagarzinho pelo envelhecimento. É uma alma cuja inteira elasticidade foi comida devagarzinho pelo endurecimento, aonde o inteiro ser foi esclerosado devagarzinho pelo endurecimento”( Ivi p. 105). ↩︎

  57. Nota su Bérgson e la filosofia bergsoniana, B p. 213 ↩︎

  58. Pensa-se que seja suficiente que uma idéia seja apenas feita para que não tinha sido nunca usada. Qual erro. Ela serviu ao fabricante. Quando uma árvore de teatro, quando um amor de teatro sai das mãos do fabricante, é igualmente uma velha árvore, é igualmente uma árvore já feita, e é igualmente uma árvore de teatro. Mas uma linda árvore feita logo, nem por isso é uma verdadeira árvore de campanha. Nem por isso é uma nova árvore no mundo. Não é uma questão de graus, é uma questão de ordem. Homero é novo esta manhã, e talvez nada é mais velho quanto o jornal de hoje” (Cartesio e Bérgson, cit. p. 15-16). ↩︎

  59. Zangwill, A, cit. pp. 1399-1400. ↩︎

  60. Por esta analise cf. Metafisiche,filosofie, religioni e…progresso, cit. p. 54. ↩︎

  61. Zangwill, A. cit. p. 1432. ↩︎

  62. Cf a interessante analise que Péguy desenvolve em: Marcel, premier dialoque de a cite harmonieuse, A., cit. pp. 110-113. ↩︎

  63. Toda metafísica era essencialmente uma operação de pesquisa, uma viagem de exploração do real. Ela era mais ou menos precária, era mais ou menos conseguida, ela alcançava mais ou menos, muito menos, ou pouco, ou em nada…”( Cf. Lo spirito del sistema, (org. Forcina M., Milella Lecce, 1988, p. 250-251). ↩︎

  64. Ivi p. 53. ↩︎

  65. Ivi p. 63. ↩︎

  66. Ivi p. 59. ↩︎

  67. Ivi p. 80. ↩︎

  68. Ivi p. 110. ↩︎